Prefeito eleito no ES pode se tornar inelegível e cidade ter nova eleição
Ronan Zocoloto, popularmente chamado de Ronan Fisioterapeuta (PL), prefeito eleito de Santa Maria de Jetibá, na região Serrana do Espírito Santo, corre o risco de ser declarado inelegível devido à divulgação de uma pesquisa eleitoral falsa que pode ter influenciado a escolha dos eleitores no município. Essa é a alegação apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por intermédio da Promotoria de Justiça Geral de Santa Leopoldina.
O órgão solicitou à Justiça Eleitoral a cassação do diploma de prefeito e a declaração de inelegibilidade por um período de oito anos. Além do prefeito, o pedido também abrange o vice-prefeito eleito, Rafael Pimentel.
Segundo um documento, o candidato alterou uma pesquisa eleitoral já existente, que havia sido divulgada em vídeo por um portal de notícias do Espírito Santo, referente a candidatos de outra cidade. Ele usou inteligência artificial para modificar as informações da mensagem, adaptando a pesquisa para aparentar ser sobre as eleições em Santa Maria de Jetibá.
“Nota-se que a cidade de Santa Maria de Jetibá tem a sua população residente, em sua
maioria, na zona rural e não estão familiarizados com a manipulação que é feita nas redes
sociais pelos crápulas e malfeitores, que utilizando da boa-fé dos incautos e utilizando de I.A.
são capazes de influenciar, como de fato influenciou, a vontade do eleitor”, complementa o documento.
O candidato, contudo, alega que recebeu uma captura de tela de uma suposta pesquisa eleitoral através de um aplicativo de mensagens na manhã do domingo, dia da votação, e que instruiu seus apoiadores a não republicarem ou compartilharem o conteúdo.
“Entrei em contato diretamente com o Promotor de Justiça, esclarecendo que não tive absolutamente nenhum envolvimento com a referida pesquisa e segui à risca as orientações que ele passou. Prontamente, por orientação do Promotor de Justiça, publiquei em minhas redes sociais e grupos de Whatsapp, uma nota oficial informando que não tive participação alguma na contratação, elaboração ou divulgação dessa pesquisa, alertando ainda sobre as consequências da divulgação“, disse em nota enviada ao Folha Vitória. (Veja a nota na íntegra abaixo).
Para sustentar que a pesquisa eleitoral falsa teve impacto sobre os eleitores da cidade, o promotor Jefferson Valente Muniz destacou a margem de votos. Ronan Fisioterapeuta (PL) venceu a eleição com uma diferença de apenas 63 votos em relação ao candidato Hans Dettmann (Republicanos).
Ainda de acordo com o documento, a pesquisa falsa foi disseminada no mesmo dia da eleição “em vários grupos de Whatsapp, por várias pessoas ligadas ao Partido Liberal, partido do candidato eleito, ora representado, e de forma síncrona, demonstrando que foi orquestrado pelos apoiadores do candidato”.
O Ministério Público também destacou que o instituto responsável pela pesquisa possuía registro regular na Justiça Eleitoral, permitindo que qualquer eleitor pudesse verificar sua autenticidade. No entanto, como o resultado não favorecia o candidato, os contratantes decidiram não divulgar a pesquisa, que havia sido solicitada previamente.
“Os representados querem induzir a erro aqueles que sem conhecimento suficiente ingressavam para verificar a existência da pesquisa, pois a princípio, constava o número legal e regular na Justiça Eleitoral”, informa o documento.
O candidato também é acusado de desrespeitar e desafiar a Justiça Eleitoral ao realizar uma carreata em uma área que não havia sido previamente acordada entre os concorrentes. Eles haviam estabelecido regiões específicas para as manifestações políticas, com o objetivo de evitar conflitos ao evitar a presença simultânea nos mesmos locais.
“O próprio Ronan confirma que não só sabia, como apoiou a tramoia, ao falar que visitar a região, que tinha acordado anteriormente que não faria, era importante, ainda que isso pudesse ocorrer conflitos e violência que a Justiça Eleitoral tentava evitar”, afirma o promotor, completando que “disputas eleitorais não é vale tudo, ou luta de MMA, respeito as regras, as decisões judiciais e o princípio da igualdade das armas devem viger”
Se as candidaturas dos eleitos forem cassadas e eles forem declarados inelegíveis, uma nova eleição será realizada em Santa Maria de Jetibá, permitindo que o PL apresente uma nova chapa. O prefeito eleito e o vice têm um prazo de cinco dias para apresentar sua defesa.
O que diz o prefeito eleito?
“No domingo pela manhã, dia do pleito, recebi via grupo de WhatsApp um print de uma suposta pesquisa eleitoral. De imediato, orientei que ninguém repassasse tal material e entrei em contato diretamente com o Promotor de Justiça, esclarecendo que não tive absolutamente nenhum envolvimento com a referida pesquisa e segui à risca as orientações que ele passou.
Prontamente, por orientação do Promotor de Justiça, publiquei em minhas redes sociais e grupos de Whatsapp, uma nota oficial informando que não tive participação alguma na contratação, elaboração ou divulgação dessa pesquisa, alertando ainda sobre as consequências da divulgação. Não descansarei até que a verdade prevaleça.
Tomei conhecimento do processo judicial através da reportagem e reafirmo meu total interesse na apuração rigorosa dos fatos, pois sou inocente das acusações que estão sendo feitas. Reafirmo também que o processo eleitoral é soberano e que o resultado nas urnas foi conquistado com muito suor e o apoio dos eleitores de Santa Maria de Jetibá.
Estou à disposição das autoridades e da Justiça para colaborar em tudo o que for necessário, sempre em respeito à transparência e à democracia.”